Nos últimos dois dias, apresentando o SporTV News após os jogos da rodada do Campeonato Brasileiro, fui acompanhando a reação dos candidatos à vaga de técnico da seleção. Na quarta, Mano Menezes negou categoricamente ter recebido qualquer convite. Apesar disso, publiquei ontem um post do amigo Fred Soares, com o título “É o Mano”, assim, entre aspas, porque a afirmação não era dele nem minha, e sim de uma fonte da CBF. Acharia perfeitamente natural que o técnico do Corinthians estivesse negando um convite mesmo que já o tivesse recebido.
A reação de Felipão me pareceu mais convincente: ainda na quarta, ele fez um exaltado discurso exigindo dos jornalistas que parassem de especular sobre seu nome na seleção (aliás, esse professor parece ter voltado da Europa graduado em jornalismo, cheio de orientações sobre o que os repórteres devem ou não devem fazer). Foi tão enfático que as perguntas na quinta, na sala de entrevistas coletivas do Pacaembu, começavam com frases do tipo: “Já que você não recebeu nenhum convite…” Do outro lado do mesmo estádio, Joel Santana provocava risadas ao responder, com seu jeito espontâneo e divertido: “Não vai ser o Joel… Acho que vocês vão ter uma surpresa.”
Pois a surpresa foi anunciada na manhã de hoje: Muricy Ramalho é o novo técnico da seleção brasileira. Não foi como Joel previu, alguém que não estava sendo sequer cogitado. Mas Muricy era, digamos, o menos bancado dos nomes que circulavam. Algum comentário a este post há de me corrigir se eu estiver errado, mas não vi ninguém afirmar categoricamente que o treinador do Fluminense seria o escolhido. Ele sempre aparecia como mais um na lista. E ontem, na sala de entrevistas do Maracanã, foi mais um a afirmar que não tinha sido convidado.
Talvez não tivesse mesmo. Uma frase que me ocorreu e acabei não falando no ar, ao ver um desmentido atrás do outro, foi: “A negociação para técnico da seleção brasileira é a mais rápida que existe: a CBF pergunta se o cara quer e ele responde que sim.” Pode ter sido exatamente o que aconteceu hoje de manhã, ou pode ser que Muricy tenha sido obrigado a mentir para os jornalistas – algo que não costuma fazer – para manter o sigilo. Seja como for, a CBF conseguiu mais uma vez. O nome do novo treinador não vazou até hoje, o dia planejado para o anúncio.
Enfim, é o Muricy. E de cara digo que gosto da escolha. Há anos ele entra em qualquer lista de melhores técnicos do Brasil, invariavelmente em primeiro lugar. Se havia alguma desconfiança com relação a sua passagem pelo Palmeiras, o trabalho no Fluminense – que levou à liderança do Campeonato Brasileiro horas antes de deixar o clube – já apagou. Seus detratores têm uma implicância que seguramente aparecerá nos comentários a este post: o cara não é bom de mata-mata, e a seleção não joga campeonato de pontos corridos. Isso só o tempo – que costuma ser seu aliado – e os resultados tratarão de desmentir.
Não acho que essa pecha seja o que há de mais importante no trabalho de Muricy à frente da seleção, nem sua histórica falta de paciência com coletivas – sobre a qual ele me falou, mostrando certo arrependimento, em entrevista para o SporTV News em São Paulo, e que parece ter arrefecido um pouco no comando do Fluminense. Aliás, o fato de que um treinador que já teve problemas com os jornalistas ter sido o escolhido mostra algo que pode ser positivo: a CBF não parece preocupada com o que a imprensa acha ou deixa de achar do relacionamento com o indicado para um cargo tão importante. Esse, apesar da falsa impressão passada pelo último ocupante do posto, nunca foi o ponto primordial.
O que me chama a atenção é que o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, deu a entender, na entrevista ao Bem, Amigos ainda na África do Sul, que tem um projeto bem desenhado o novo treinador: convocar jogadores jovens e com eles formar o time para a Copa de 2014, mesmo que os resultados não apareçam no início. Chegou a pedir paciência à torcida, lembrando o laboratório de Falcão no início dos anos 90. Não vejo nenhum impedimento para Muricy trabalhar com jovens ou perder uns joguinhos no início, mas vai ser curioso observar como ele se comporta tendo uma linha a indicar seu trabalho. Nos clubes, o comandante sempre fez questão da máxima liberdade para indicar os contratados e principalmente escalar o time.
Segunda-feira tem convocação. Já vamos poder observar algo nessa linha (e também, pelo número de zagueiros chamados, começar a adivinhar se ele vai levar seu 3-5-2 para o novo cargo ou manter o tradicional 4-4-2 do futebol brasileiro). Em agosto, começa o que promete ser um longo trabalho rumo à Copa do Mundo em que muito provavelmente o time da casa será o mais pressionado da história do futebol. Se durar até lá – e, além de sua capacidade para isso, o chefe Ricardo Teixeira prefere não demitir técnicos entre Copas -, Muricy me parece também um bom nome para aguentar esse tranco. E mesmo antes que sua aventura comece, é reconfortante saber que a seleção brasileira tem um técnico. Mais ainda, um técnico experiente, vencedor e respeitado pela torcida.
Boa sorte para Muricy e para o torcedor brasileiro.
Fonte: Globo.com
Marivaldo Lima
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