quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O mundo virtual de Neymar, longe da realidade de Dourival Jr.

O que você fazia aos 18 anos? Talvez já tivesse assinado seu primeiro contrato profissional, mas provavelmente não para receber 600 mil reais por mês. E é difícil imaginar que já ganhasse 60 mil – mais do que muitos executivos de multinacional – desde os 13, quando seu salário ainda precisa ir para a conta de alguém mais velho. Qual de nós tem em sua própria experiência de vida elementos para julgar Neymar? (Uma pausa antes de passar ao restante do texto: este primeiro parágrafo não questiona a legitimidade do dinheiro que o jogador do Santos ganha, apenas reflete sobre o impacto que tem na cabeça de alguém tão jovem.)
 
Neymar vive em outro mundo, o mundo paralelo dos jogadores de futebol – que não é feito só de dinheiro, mas de poder também. O poder que experimentou de novo agora há pouco, quando a diretoria do Santos demitiu Dorival Júnior por ter sido xingado por ele. O ofensor foi multado e suspenso por um jogo. Seria por mais um, mas aí o ofendido caiu. E será uma grande surpresa para este blog se sua queda não tiver grande aprovação da torcida do Santos.

Neymar é do Santos, Neymar tem que jogar; contra o Corinthians, mais ainda. Revogam-se todas as disposições em contrário. O olhar do torcedor, por natureza e direito, não precisa alcançar mais longe do que isso – não precisa sequer alcançar o outro lado da arquibancada, desde que isso não chegue ao ponto de ameaçar o convívio em sociedade. Quem tem de enxergar mais longe, por dever de ofício, é quem trabalha com o futebol – mesmo que esse trabalho seja voltado para apenas um clube, como é o caso da diretoria do Santos.
dorival 

A expressão “criar um monstro” já foi muito usada nos últimos dias sobre Neymar e provavelmente se repetirá nos próximos. A diretoria do Santos talvez prefira “proteger o patrimônio”. Demitir Dorival por causa de seu principal jogador pode significar uma coisa e outra. O risco para o Santos é que, no momento de demitir o treinador, os dirigentes tenham se comportado como os torcedores, com seu olhar enviezado.

Quanto a Neymar, o monstro pode ainda não estar criado, mas o risco é grande. Xingar o treinador e os companheiros de time por não ter batido um pênalti é feio, coisa de garotinho mimado. Chamar os adversários de pobres, fazer alusão a sua origem nordestina, repetir para eles seu próprio salário milionário e dizer que não pode ser marcado por quem não tem onde cair morto é algo muito mais grave. E o jovem atacante do Santos e da seleção brasileira já foi acusado de fazer tudo isso. Se você não quer acreditar, é direito. Mas por favor, não o defenda dizendo que é “coisa do futebol”, o argumento clássico para casos ainda mais graves, como os de racismo.

Não sei o que você fazia aos 18 anos, mas se era algo assim espero que tenha mudado muito. Afinal de contas, ninguém num mundo paralelo demitiu um técnico para lhe dar razão. As coisas são diferentes aqui na vida real.

Fonte: Globo.com
Marivaldo Lima

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