Um dia de popstar. Diante de cerca de 15 jornalistas, o apoiador Tartá cedeu uma longa entrevista de cerca de duas horas nesta segunda-feira, na Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Também, não é para menos. Autor do gol da vitória por 1 a 0 sobre o Vasco, domingo, no Engenhão, o apoiador foi o centro das atenções. Porém, se engana quem acha que a escalada para chegar novamente ao time principal foi fácil.
- Estou subindo as escadinhas, chegando lá. Espero não parar de subir com meu trabalho, com respeito e perseverança.
Tartá e seu pai Alcimar Soares
O jogador, de 21 anos, passou por momentos difíceis. O pai Alcimar Soares, de 45 anos, conta que o filho precisou passar por uma experiência complicada na base e ficou perto de deixar o Fluminense ainda no infantil por não ter dinheiro para pagar as passagens de Marechal Hermes, onde estudava, para Xerém, local de treinos das categorias de base. Na ocasião, ele chegou a conversar com o técnico da categoria na época Alexandre Gama para fazer um teste e dizer se aproveitaria ou não Tartá no time.
- Minha esposa era ascensorista e recebia um salário mínimo. Eu estava sem trabalhar e ali que foi a dificuldade maior. Mas não chegamos a passar fome, pois tinha minha sogra que ajudava muito e era muito agarrada com ele.
Desde os 12 anos no clube, Tartá deixou o Tricolor início deste ano. Ele não fazia parte dos planos de Cuca e foi liberado para acertar com o Atlético-PR, por empréstimo. Mas, com a saída do técnico Antônio Lopes, ficou esquecido e pediu para voltar para o Fluminense. Como não vinha sendo aproveitado, os dirigentes do Furacão não criaram empecilho.
Ele voltou em setembro ao Flu, mas não foi aproveitado por Muricy Ramalho. Sem chance, Tartá ainda participou do Brasileiro sub-23 e chamou a atenção em uma partida contra o Flamengo, ao cometer um pênalti e ser expulso. No entanto, com a falta opções, foi chamado por Muricy Ramalho, que já não contava com Fred e Emerson, machucados.
O destino quis, então, que ele voltasse exatamente contra o ex-clube. No dia 24 de outubro, contra o Atlético-PR, na Arena da Baixada, ele entrou no segundo tempo e sofreu o pênalti que resultou no gol de Conca: 2 a 2. A partida marcou a volta do jogador aos gramados com a camisa tricolor após quase um ano. O último jogo havia acontecido no dia 15 de novembro de 2009, na vitória por 2 a 1 sobre o mesmo Furacão.
Em longa entrevista, o jogador falou do início da carreira, das dificuldades, do apoio família, da passagem por Curitiba e indicou Fred como seu padrinho e Renato Gaúcho como seu segundo pai. Tranquilo, agora ele só espera fazer parte do time que pode ganhar o Campeonato Brasileiro.
- Sou mais um ingredientezinho e espero ser importante na reta final. Faltam poucos jogos e espero dar meu melhor.
Início da carreira
Foi complicado no início. Todos passam por suas lutas, e eu tive as minhas. Mas agora é gratificante poder ajudar, dar uma situação melhor para os meus pais (Alcimar Soares e dona Marli). Hoje posso dar condições de estudo para os meus irmãos (Vinicius, 13 anos, e Vanessa, 17) também. Minha família sempre me ajudou e fez com que eu não desistisse.
Xerém
Em Xerém sempre fui bem tratado. Fiz o teste e passei. Depois comecei a jogar como titular e desde então só passaram coisas boas na minha vida.
Família
A família é a base de tudo. Moro com meus pais, meus irmãos e tenho aquela energia boa deles para conseguir alcançar meus objetivos. Claro que tem dias que chegamos meio cabisbaixos e você pensa: “Pô, não aconteceu”. Aí entra a família, com meus irmão, meus pais, que sempre dão apoio. E olho e penso que não posso desistir.
Um gol que guardo no coração foi contra o São Paulo (no Brasileiro de 2008), quando o Muricy Ramalho era o técnico (do Tricolor paulista). Foi uma jogada parecida (com a do gol de domingo). Passei a bola para o Washington, ele bateu e o Rogério Ceni defendeu. Cheguei e pude fazer o gol. E a história se repetiu, foi engraçado.
Surpreso por ser aproveitado por Muricy?
Sempre tive fé, mas você olhava ali e era bastante complicado por ter muita gente de qualidade. Mas tinha fé no meu sonho e que seria legal entrar, marcar no último jogo. Pensava nessas coisas. Graças a Deus, antes do último jogo já vem acontecendo e está sendo muito bom.
Poucas oportunidades
Às vezes o trem foge do trilho, aí fica complicado, ainda mais quando você é novo. Você questiona se é competente, se a sua hora não vai chegar. Mas a família incentiva e sempre acontece alguma coisa boa. Às vezes você anda na rua e tem um senhor ou uma senhora que chega e fala, aí você para e pensa onde está errando, onde tem que melhorar para que as coisas voltem a caminhar da melhor forma e o trem volte para o trilho.
Tempo longe do Fluminense
Às vezes o deserto para uns são gigantescos. Dura até um ano. Para mim foi isso. Mas esse ano aprendi muito, ganhei muita experiência de coisas ruins, mas vale a pena. Tem que tirar as coisas boas dos momentos ruins e seguir a caminhada. Você só tem duas opções: ou desiste ou tenta. Eu preferi tentar e acho que foi o melhor caminho.
Ficou ansioso para voltar?
Eu ligava para o Fred todo dia para saber como ele estava e ele me perguntava se eu estava bem. Mas eu sempre falava que queria voltar e acabei voltando. Muitos dizem que fui devolvido, mas eu que pedi para voltar.
Amizade com Fred
Perturbei muito a vida dele. Ele sabia da minha personalidade, que sou um cara de grupo e me deu força. Podemos dizer que é um bom padrinho.
E se perder a vaga para ele?
Está ótimo. Ele é meu padrinho. Vou reclamar do quê? É só dar benção e torcer para ele continuar fazendo os gols que sabe. Ele é um exemplo no grupo, que exerce bem demais a liderança. Não só ele. Agora temos outros como Belletti e o Deco, que dividem a liderança com ele.
Treinador importante
Foi o Renato Gaúcho. Esse homem eu e minha família somos muito gratos a ele. O carinho que me tratou quando subi e até hoje é muito legal. Tenho uma gratidão enorme por ele. Não vou esquecer o Renato nunca na minha vida. Foi um anjozinho que papai do céu colocou na minha vida. Agora tenho falado menos com ele.
Virou “frasista” como o Renato?
Tem que aprender com os bons. Eu aprendi com ele.
Papel do Tartá no Flu
O Muricy cobra muito as funções táticas. Cada um tem sua função, independentemente se é atacante ou meia. Eu tenho minha função e sem a bola tenho a obrigação de marcar, até pelo lado direito, apesar de ser canhoto. Mas não tenho tido problemas. Minha função é marcar e quando roubarmos a bola sair em velocidade.
Meia ou atacante?
Comecei no ataque, mas no juvenil fui deslocado para a meia. Mas isso nem eu mesmo sei, se é meia ou atacante. Acho que é atacante mesmo. Eu forço a meia, mas é atacante.
Europa
Eu não tenho essa pressa de ir para lá. Tenho pressa de ter o trabalho reconhecido. E aparentemente está chegando o meu tempo de ter o trabalho reconhecido aqui. Se for o momento, as coisas vão acontecer.
Fonte: Globo.com
Marivaldo Lima
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